segunda-feira, 3 de setembro de 2007

recordar os gestos de amanhã


quem serei amanhã?
se somos outro para cada um
em cada hora.

quem serei
quando acordar sozinho,
fechado na minha tímidez
a passar o portão da fábrica,
a entrar e sair do gabinete
do encarregado dos serviços gerais?

e se não for o mesmo
quando paro ao meio da manhã
para comer, ao sol,
a maçã com a menina zefa?

quem serei
quando recordar a noite branca,
as páginas roubadas à morte,
quando fantasiar
outra vez ainda
sobre o almoço da cantina
desta vez em salzburgo
desta vez jantar
desta vez dançando

quem serei amanhã
quando não souber
o caminho do bairro operário
todos os cumprimentos
todos os olhares
todos os silêncios?

quem serei
quando não me vestir
da pessoa certa
para poder ter
as maçãs
e as noites brancas?

1 comentário:

Márcia Maia disse...

Que poema, Paulo! Belo.
Fazia um tempo enorme que não vinha aqui. Virei mais, again.