segunda-feira, 1 de dezembro de 2003

excessivo é ser jovem












penso em coimbra e é este o rumor que me chega: um amanhecer de pássaros, o coaxar das rãs pela noite fora. entre uma coisa e outra, os noticiários da bbc, os quartetos de beethoven, a comovida e tão desenganada arte de oliveira martins, e as discussões intermináveis, só possíveis quando a juventude é excessiva, e não nos cabe nas mãos um tal ardor. era a ferocidade brutinha, a nossa guerra pessoal, este demónio da negação instalado no corpo, e tudo servia de pretexto: um verso de ungaretti, a cor de um seixo, um desenho de matisse. havia também as lições de matemática (com poemas de neruda e de maiakovski à mistura) com o joaquim namorado, três por semana.

eugénio de andrade
memórias da alegria, antologia de verso e prosa sobre coimbra
2ª edição, revista e aumentada, novembro de 1996, campo das letras.

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